segunda-feira, 6 de abril de 2015

Ele vem com uma galera!



Essa história é quase real e quase fictícia!

Certa vez, soube de uma pessoa, que se chamava Daniel, que não passava por bons momentos. Descobrira uma doença grave e estava preso em uma cama de hospital.

Então, compelido por um sentimento de compaixão, fui ter com ele.

O nosso diálogo foi mais ou menos assim:

- Bom dia! – disse eu a ele, mas não tive nenhuma resposta, como se eu também carregasse alguma culpa ou como se a minha presença, ou de qualquer um, incomodasse.
- Como está se sentindo hoje – continuei – fiquei sabendo que os dias não tem sido fáceis para você. Se te consola, não tem sido fácil pra ninguém!

Nesse momento, consegui a atenção dele, mas não do jeito que queria. Com cara fechada, ele olhou para mim e respondeu:

- Não, não consola!

Nesse momento, fiquei aflito, pois queria era ajudar, não trazer mais peso sobre a vida dele.

- Desculpe – respondi – realmente não devemos comparar as suas tribulações com as tribulações dos outros, afinal, cada um carrega a sua própria cruz!
- Cruz!? – respondeu Daniel – Não vem me dizer que veio aqui “pregar” pra mim, vai perder seu tempo! Se Deus existisse, isso não teria acontecido!
- Pregar? Claro que não, só queria ser solidário e saber se poderia lhe ajudar de alguma maneira – durante a minha resposta, meus pensamentos já me afligiam, pois gostaria, muito, de trazer paz para aquele rapaz.

Daniel, ainda transparecendo raiva no olhar e na voz, continuou:

- Aliás, nem sei que você está fazendo aqui, eu não te conheço e nem você me conhece, portanto, gostaria de ficar sozinho. Até já me acostumei, tinha vários amigos, mas nenhum está aqui hoje. Então, esse é o meu carma, morrer sozinho, sem ninguém.

Pareceu o início de um desabafo, mas acabou por ali, não consegui mais nenhuma palavra dele e não consegui dizer mais nada, pois percebi que o coração dele estava duro como pedra e não adiantaria exercitar toda a minha argumentação, pois isso só traria mais dor e sofrimento para ele e não o faria mais feliz, que era o meu objetivo.

Com sentimento de derrota, saí daquele quarto e fui embora. Não deixei de questionar, pois achei, juro que achei, que o coração daquele homem poderia estar mais preparado para receber a palavra de carinho e de apoio, afinal, muitas pessoas são que se permitem mais nessas condições, de dor e de sofrimento, pois estão mais suscetíveis a uma palavra amiga.

Eu desisti, mas tem gente que não desiste!
                
Alguns dias depois, mais uma vez me veio o sentimento de visitar mais uma vez aquele rapaz. Confesso que estava com o coração desanimado, pois ele não era somente um coração duro, mas também “cabeça dura”. Mas temos que ser persistentes, como algumas pessoas por aí! (já, já, você vai entender).

Chegando no hospital, fui até a recepção e pedi para visitar o paciente de nome Daniel, Ala tal, quarto tal, etc., etc.

- Bem!? – interpelou a recepcionista – ele não está mais nesse quarto...
- Recebeu alta – apressado respondi.
- Não – respondeu ela – foi transferido para uma unidade de tratamento intensivo, o quadro clínico dele piorou e os médicos acharam melhor transferi-lo.

Com autorização, fui em busca de informações a respeito do Daniel e, conversando com o Médico, percebi que ele não tinha muito tempo de vida.

- Posso conversar com ele – perguntei ao médico.
- Você é parente? – me perguntou.
- Não – respondi – isso interfere em alguma coisa?
- É que a presença de pessoas queridas muitas vezes auxiliam na recuperação de pacientes e o Sr. Daniel só recebeu a visita de uma pessoa até hoje, um tal de...

Nesse momento escutei o meu nome. Aquilo soou como um grande peso em minhas costas, pois realmente não conhecia o Daniel e ter sido o único a visita-lo me fazia pensar se não era demais para mim, pois sou como qualquer pessoa, tenho problemas e circunstâncias como qualquer um.

- Nossa! – respondi ao médico – não imaginava isso! Mas pode deixar, trouxe uma turma que conhece ele para visitá-lo. – disse isso sem planejar, saiu como se não tivesse sido eu.
- Devo lembrar ao senhor – alertou o médico – que não permitimos mais do que uma pessoa no quarto, pois o estado dele inspira cuidados!
- Não se preocupa Doutor – respondi confiante – Pra tudo tem um jeito e o que vale é a recuperação do Daniel. Agora, ele é a pessoa mais importante para mim.

Indo em direção ao quarto, comecei a pensar o que falar e lembrei de algumas palavras e histórias que poderiam animá-lo.

Quando adentrei no quarto, vi o Daniel todo envolto a aparelhos, com beep’s tocando e monitores ligados. Ele estava com os olhos abertos, mas não podia falar, pois toda aquela aparelhagem o impedia de falar, mas era exatamente isso que o mantinha vivo.

- E aí Daniel, como vão as coisas? – típica fala de quem não sabe o que fazer. Como ele poderia responder!?

Ele me fitou com os olhos por um segundo e desviou para outra direção. Entendi que não era exatamente bem-vindo naquele lugar.

- Calma Daniel – disse a ele – não vim aqui para “pregar” para você, como você havia me dito na última vez – e continuei a falar – quero somente te contar uma história de um amigo meu. Ele te conhece, mas você não conhece ele.

Nesse momento ele olhou para mim novamente e com um olhar de interrogação, como se dissesse: “como assim, uma história? Ele me conhece e eu não conheço?”. Pelo menos essa foi a minha interpretação.

- Isso mesmo Daniel, queria lhe contar um pouco sobre esse meu amigo – e continuei - Ele é legal pra caramba e está sempre comigo, me ajudando em tudo, seja nos momentos de alegria, como nos momentos de tristeza – continuando eu disse - Um dia desses, conversando com ele, ele me falou a seu respeito.

A expressão do Daniel mudou de interrogação para surpresa.

- Ele me falou sobre as suas dificuldades e de como a sua vida foi difícil e tals e que dia-a-dia você ia se sentindo cada vez mais sozinho.

Daniel passou da surpresa para um misto de curiosidade e susto. Ele parecia realmente assustado.

- Disse também que sempre quis te ajudar, mais que vocês não tinham sido apresentados ainda e que não poderia invadir a sua vida assim, sem que você realmente quisesse a ajuda dele.
- Então – continuei – eu descobri, nesse dia em que conversávamos, que eu te conhecia.

Nesse momento, Daniel olhou para mim com um olhar de “quem disse que te conheço”.

- Tá, beleza! Não é beemmm a gente se conhece, mas confessa que já não sou um rosto totalmente desconhecido, né? – expliquei – De mais a mais, o Doutor disse que somente um pessoa te visitou até hoje.

Daniel, meio forçado e com os olhos, parecia concordar e continuou com a atenção em mim.

- Voltando ao assunto – tentando ser menos formal – eu me dispus e me comprometi com esse amigo a apresentar vocês dois. Ele é tão legal que acho que vocês vão combinar bem.

Nesse momento, Daniel fez uma certa cara de desprezo, pois como na condição em que ele estava poderia conhecer alguém e, ainda por cima, se dar bem com ela. Acho que se a cova dele estive ao lado da cama, ele rolava para dentro, tão triste era a expressão dele. Nesse momento, ele desviou o olhar para o outro lado, como se olhasse para o infinito.

- Ele está aí – disse em tom solene – ansiosíssimo para encontrar com você! Mas antes de chama-lo, deixa eu falar um pouco dele para você.

Daniel, torna a olhar para mim e volta a ter uma expressão de curiosidade.

- Há alguns anos – comecei a contar – passava por muitas dificuldades financeiras e ninguém naquele momento se dispunha a me ajudar e, pra falar a verdade, eu me sentia um incompreendido.

Daniel continuava olhando.

- Voltava eu e minha esposa de um passeio e dissemos um ao outro o quanto queríamos comer um “junk food”! Um sandubão com tudo dentro – sorri nesse momento e a expressão do Daniel ficou mais agradável – Mas não tinha um centavo no bolso e muitas contas para pagar. Naquele momento, pensei que não tinha o direito a comer um sandubão!

Daniel parecia mais curioso ainda, com uma expressão do tipo “o que tem isso haver”.

- Mas encontrei com esse meu amigo – continuei – e conversa vai, conversa vem, falei do meu desejo de comer um sanduba aí ele me convidou a comer um. Aí eu falei pro meu amigo: Tô sem grana, não posso! Ele disse: comigo você não precisa de dinheiro, só tem que confiar em mim, você confia? Eu disse: sim, confio. Resumo: comi eu e minha esposa um dos melhores “junk food’s” da minha vida! Totalmente na faixa.

Daniel = interrogação.

- Calma – continuei – teve um outro dia em que eu, ainda apertado financeiramente, aliás, nunca deixei de estar apertado – tentava passar um ar mais descontraído – tinha uma dívida que precisava pagar de qualquer maneira, pois caso chegasse nos fiadores, isso os prejudicaria enormemente em suas profissões.

Daniel continuava curioso, mas eu tinha a sua total atenção, apesar de não poder dizer nenhuma palavra.

- Eu tentava alguma estratégia para conseguir saldar a dívida, mas tudo que tentava, fracassava. Esse meu amigo, conhecia o pessoal da empresa, conhecia todos, por sinal. Conversando com ele, ele me disse pra ficar despreocupado que ele ia resolver, eu só precisava reafirmar a minha confiança nele. Eu disse: claro que confio, você é um amigão. Ele foi lá e quitou a minha dívida e nem se preocupou com o tamanho dela. Pra falar a verdade era bem grande a dívida.

Daniel ficava cada vez mais interessado nas minhas histórias e parecia despertar cada vez mais o desejo de conhecer esse meu amigo, afinal uma cara “pau pra toda obra” não é fácil de encontrar.

- Essa foi mais legal – afirmei com o Daniel – certa vez eu tive uma dívida minha perdoada. Assim mesmo, sem quê, nem pra quê, a minha dívida foi perdoada. Imagina a minha felicidade – disse, mostrando uma cara bem feliz para o Daniel e ele, por sua vez, tinha, pela primeira vez, uma expressão mais tranquila – claro que comecei a fazer muitos planos com esse dinheiro.

Nesse momento, entrou uma enfermeira no quarto e estranhou a expressão do Daniel, como se ela nunca tivesse o visto daquela maneira.

Depois que ela saiu, continuei:

- Aí pensei, sabe! Vou comprar um computador, vou comprar uma máquina fotográfica, vou comprar isso, vou comprar aquilo. Lembra aquela história “na tristeza e na alegria” – uma pausa estratégica – Pois é, lá estava esse meu amigo. Ele me contou a história de uma outra conhecida em comum e me falou que ela, conversando com ele, tinha reclamado das dificuldades da vida e que precisava de ajuda. Nessa, ele me convenceu a ajudar essa pessoa e com esse dinheiro ajudei ela – olhei pra ele de forma bastante incisiva – pensa num cara bacana!? Esse é o meu amigo, já já você vai conhecer!

Daniel prestava cada vez mais a atenção em mim e nas minhas histórias. Sou capaz de afirmar que naquele momento ele se agradava cada vez mais de tudo aquilo e que a curiosidade dele aumentava, e muito, para conhecer esse nosso “amigo em comum”.

- Lembrei de outra – continuei, aproveitando a atenção cada vez maior de Daniel – quanto tive o meu primeiro filho, não tive dinheiro comprar o colchão do berço, que, aliás, era emprestado. Minha esposa e eu ficamos muito aflitos com isso e não sabíamos o que fazer. As pessoas mais próximas também não podiam ajudar. Aí, no dia em que saíamos do hospital, dou de cara com esse meu amigo, bem na porta e com o colchão do berço na mão. Eu disse: Não acredito que você fez isso por mim! Ele disse: Eu sempre disse pra você confiar em mim, então tá aí, cuide bem dessa criança linda! – um suspiro meu e disse olhando para o Daniel – você consegue imaginar o quanto eu sou grato a ele?

Daniel, com a expressão bem mais tranquila, meio que afirmava com o olhar o que eu acabara de dizer e, mesmo nos momentos em que o silêncio imperava, ele não parava de olhar para mim, como se pedisse para eu falar mais, contar mais. A curiosidade parecia enorme e o ar já não parecia de tristeza, mas sim de desejo em conhecer essa pessoa tão parceira, tão bacana como eu pintava.

Então, depois de alguns poucos segundos de silêncio por minha parte, eu perguntei ao Daniel:

- Quer conhecê-lo?

Daniel apertou os olhos e ficou com eles fechados um pouco mais, como se me desse uma resposta afirmativa, afinal, um cara bacana como esse poderia, de alguma forma, trazer mais ânimo para ele.

- Mas antes, devo alertá-lo que ele não veio sozinho, trouxe uma galera com ele, pra fazer uma festa pra você.

Daniel ficou ainda mais curioso, afinal ninguém havia ido ali até aquele momento para visitá-lo, a não ser aquele estranho-conhecido que conversava com ele.

Com a atenção do Daniel totalmente voltada para mim naquele momento, senti que era a hora de apresenta-lo a esse amigo que tanto falara durante a nossa conversa. Olhei para a porta e disse:

- Pode entrar por favor, ele quer conhece-lo!

Imediatamente Daniel olhou para a porta e o seu semblante mudou radicalmente. O seu rosto ficou completamente irradiado de alegria e emoção. Depois do meu chamado, ele em momento algum olhou para mim. Ele fitava os olhos em várias direções, como se tivesse várias pessoas naquele recinto. Apesar de não entender bem dos instrumentos médicos, percebi, pelo monitor, que os batimentos cardíacos dele aumentara. De repente, ele não conseguiu mais segurar as lágrimas nos olhos. Aquele corpo imóvel, que me fitava somente com os olhos durante toda a nossa conversa, começou a tentar se mover, como se quisesse desesperadamente levantar da cama.

Nesse momento senti que não teria mais a atenção do Daniel, afinal ele acabara de conhecer esse amigo muito especial e eu confiava que ele, meu amigo, a partir daquele momento, cuidaria do Daniel. Antes de “bater em retirada”, cutuquei o Daniel e disse:

- Antes que eu me esqueça, o nome dEle é Jesus Cristo, meu Senhor e Salvador, meu amigo, meu melhor amigo. Tenho certeza que vocês tem muito o que conversar, abraço e fique com Deus! Fique com Ele.

Daniel olhou para mim, pela última vez, e me mostrou um olhar de alegria e de agradecimento.

Nesse momento fui embora e a última notícia que tive foi que ele havia se recuperado de forma surpreendente e tinha muita alegria no seu olhar e, quando voltou a falar, também em suas palavras. Dizem que ele sempre fala daquele dia, que conheceu uns caras grandes, parece que um se chamava Miguel, um outro se chamava Gabriel e mais alguns outros e que todos olhavam admirados para um tal Jesus que visitara ele naquele dia. Fizeram muita festa, dizem!


Confesso que não vi absolutamente nada entrando pela porta naquele dia. Mas senti uma presença poderosa, que trazia paz àquele ambiente, esperança, alegria. Claro que acredito que o meu amigo entrou por aquela porta, afinal, CONFIO NELE INCONDICIONALMENTE!

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